Entrevista exclusiva com Eduardo Cecconi, especialista em análise tática de futebol no jornalismo esportivo

Postado por:
Eduardo de Souza Cecconi, já trabalhou no portal Globo Esporte
O Arena Esporte entrevistou de forma exclusiva, um dos maiores especialistas em análise tática de futebol no jornalismo esportivo. Trata-se de Eduardo Cecconi, que atualmente, é analista de desempenho das categorias de base do Grêmio. Na entrevista, Eduardo também falou sobre seu trabalho no clube gaúcho e sobre seus objetivos para o futuro. Confira abaixo tudo isso na íntegra:

Qual foi a sua trajetória no jornalismo até chegar a ser analista de desempenho das categorias de base do Grêmio?

"Sou formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2002, mas desde o 1º semestre da faculdade trabalhei em redações. Mais vinculado ao Esporte, passei pelo Jornal do Comércio, pela Rádio Band AM e pelos sites clicEsportes e Globoesporte.com, além de participar de coberturas e/ou reportagens esportivas no jornal Zero Hora, na Rádio Gaúcha, na TVCom e no site Zero Hora, todos do Grupo RBS. Mantive ao todo 4 blogs de análises táticas nesse meio tempo, o Prancheta e o Preleção (no clicEsportes), o Tabuleiro (no GE.com) e agora o Análises Táticas (no site Impedimento)."

O que te fez interessar tanto pela parte parte tática do futebol?

"Futebol é um esporte tático. São 20 jogadores de linha constantemente ocupando espaços de forma inteligente, organizada e sincronizada com seus companheiros. Para ser um bom jornalista esportivo, é preciso entender o máximo possível estes movimentos, transmitindo assim boas informações ao público.

Na sua opinião, em qual país a análise tática de futebol ganha mais destaque por parte do jornalismo? Por que?

"São vários os países que têm boa aceitação à análise tática no jornalismo, em especial Argentina, Itália, Espanha e Inglaterra. É uma questão cultural, de hábito. As pessoas nestes países são estimuladas desde cedo, pela imprensa, a consumir a análise tática como um produto relevante."

Qual foi o principal motivo que o fez deixar de trabalhar como jornalista esportivo?

"A frustração com as poucas oportunidades e as imposições em fazer pautas que não me agradavam, nas quais eu não via nenhum interesse social que não fosse a polêmica e o folclore."

O que você acha sobre as categorias de base do futebol brasileiro? O que precisa evoluir?

"Cada clube tem seu modelo de trabalho, é difícil se fazer uma análise padrão de algo tão heterogêneo. Na prática temos revelado muitos jogadores, embora a maioria atue pouco por aqui e já seja vendida. Quem sabe aproveitar melhor nossos atletas seja o principal ponto de evolução a seguir."

Qual o melhor método para identificar um sistema tático durante uma partida de futebol? 

"O sistema tático puro e simples, o dos "numerozinhos", é mais fácil de se identificar quando a equipe está sem a bola - porque os jogadores retornam a seus posicionamentos iniciais, seus pontos de partida. Quando o adversário vai fazer a saída de bola (seja tiro de meta longo, ou saída curta) é um bom momento para se observar o sistema tático da equipe que está se defendendo."

Quais as observações táticas durante o jogo que são indispensáveis? Por que?

"O mais importante é capturar os principais movimentos da equipe nos quatro momentos do jogo (posse, perda da bola, posse do adversário e recuperação da bola)."

O esquema mais utilizado atualmente, é o 4-2-3-1. Como é a execução perfeita desse sistema?

"Não existe fórmula mágica, em nenhum sistema. O bom treinador é aquele que identifica as maiores virtudes do seu grupo, e consegue fazer os jogadores colocarem isso em prática, independentemente do sistema."

Qual é a grande diferença (em termos de função em campo) do 'winger' para o meia pelo lado? 

"Olha, até onde eu sei, é apenas o idioma. Winger é a denominação que os ingleses usam para o "ponta", que dependendo do lugar pode ser chamado de meia-extremo, de externo. Tanto faz, são várias nomenclaturas para a mesma função."

Qual o seu estilo de jogo preferido em uma equipe de futebol?

"Como eu disse antes, o estilo de jogo preferido é aquele que melhor usa os jogadores à disposição, respeitando a cultura do clube, o campeonato em disputa, o adversário, o local da partida...não adianta ser apaixonado pela posse ofensiva do Barcelona e querer introduzí-la, por simples gosto pessoal, em um time que não tem histórico de posse, e cujos jogadores não têm bom passe e domínio, por exemplo."

Até que ponto a análise tática tem que ser umas das prioridades no jornalismo esportivo?

"Não precisa necessariamente ser uma prioridade, a análise tática precisa de espaço na mídia, e principalmente precisa ser tratada como informação, não como opinião. O analista faz uma leitura de movimentos que acontecem, por tanto são fatos, que precisam ser transmitidos de maneira clara, correta e precisa."

Análise tática de futebol no jornalismo esportivo, é informação e não opinião. Você acha que os jornalistas brasileiros já compreenderam bem esse fato?

"Ainda não, a maioria coloca a opinião acima da informação, ou simplesmente ignora a informação, resumindo-se à opinião, carregada de preconceitos e de erros."

Como diferenciar a marcação por encaixe individual por função e a marcação por zona?

"No encaixe, a referência do marcador é o jogador adversário - o marcador reage ao seu alvo (ou seja, se encaixa nele e o segue onde ele for); na zona, a referência é o espaço em função da bola (os jogadores ocupam os espaços mais importantes, compactando-se no setor atacado)."

Quais são os seus objetivos para o futuro? 

"Consolidar-me como analista de desempenho em futebol de alto nível, e deixar a vida me apontar o próximo caminho."

Para encerrar, qual o conselho que você deixa pra quem quer se especializar na área de análise tática de futebol no jornalismo esportivo?

"Estudar, estudar e estudar. Ler bastante. Jogar fora os preconceitos e os gostos pessoais, e aceitar que tudo é possível no futebol - desde que seja bem treinado e bem executado. E ver bastante jogo, para exercitar a análise, seja pela tevê, seja no estádio."

Esta entrevista foi produzida pelo nosso colunista João Marcos, para segui-lo no Twitter, acesse este link: @joaocavalera503

Top Ad 728x90